Há um mundo lá fora, há. Um gorgolejar suspirado de uma cidade borbulhante, mergulhada no seu próprio torpor da meia noite. Ou da uma da manhã...
Cá dentro apenas se ouve o respirar eletrónico de um computador a implorar pelo merecido descanso, após um dia de trabalho mais longo do que o habitual.
Vai dormir, pede-lhe. Deixa-me em paz.
Só mais uma música, só mais um texto, só mais um parágrafo, só mais uma conversa.
Com as pernas enfiadas debaixo dos lençóis, os braços desnudos e as costas apoiadas numa pilha de almofadas mal montada, prolonga a atividade, a inebriação de uma vida que começa, ainda que a meio. Ou talvez fosse mesmo no princípio e até agora tenha vivido o prólogo.
Solta o cabelo, prende-o novamente. Abre uma nova janela, escreve o endereço de um site, lê-o, fecha-o, pisca os olhos.
Come uma sobremesa, bebe um pouco de leite frio e pensa que tem ainda de lavar os dentes. E de dormir, para amanhã acordar cedo e cumprir os objetivos laborais traçados.
Foi um banal dia bom... um dia bom banal... Foi um dia banal e bom, que pretende prolongar enquanto os olhos sobreviverem à luta com a dormência provocada pelo acumular de demasiadas horas de vigília.
Combate um pouco mais, até que desiste de esfregá-los e de, a custo, os reabrir.
É deixá-lo ir, dar-lhe espaço, e voltar a acordar para mais um dia banal. Para mais um dia bom.