Foi ali nas rochas, mesmo ao lado da praia que já era
minha de coração, que te vi pela última vez. Não eras tu, sabes? Era só uma representação de ti, porque te
faltava o sorriso, as bochechas - marcas genéticas de várias gerações-, o teu
cabelo cinzento, os teus óculos coloridos, o teu piercing como aquele que nunca cheguei a fazer, apesar dos teus
esforços nesse sentido, o teu colo que chegou a dar-me o título de maldita.
Mas eras tu, na realidade, porque foste para não mais voltar.
E levaste muito mais do que o que imaginas. De todos
nós, eu sei, mas hoje falo por mim, que não te encontro numa igreja, numa
fotografia, numa oração antes de dormir. Encontro-te em mim, sim, numa das
melhores partes de mim porque foste tu que me permitiste construí-la, mas não
consigo chegar mais a ti, falar-te e ouvir as tuas respostas.
Um dia, os meus pais ofereceram-me a ti,
perguntando-te se querias amar-me incondicionalmente, apesar de não ser tua.
Escolheste o sim e tornaste-te,
assim, minha Madrinha.
E agora, quem é que me vai fazer sentir que faço
parte, mesmo sendo de fora? Quem é que vai servir-me a melhor parte da comida,
apesar de gostares de tanta gente? Quem vai atender-me o telefone com um olá, minha querida!? Quem é que não me
vai rolar os olhos de desilusão perante a pessoa que eu sou?
Despedi-me de ti sem querer, porque fui obrigada a
isso. Dizias sempre que não tinhas medo, que nem te preocupavas com isso,
porque quando fosse era porque tinha chegado a tua hora, porque tinha de ser.
Eras a pessoa mais tranquila e com mais paz de espírito que conheço…
Ao teu lado eu estava em casa. Agora vivo na rua.
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