terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Olá, minha querida

Foi ali nas rochas, mesmo ao lado da praia que já era minha de coração, que te vi pela última vez. Não eras tu, sabes? Era só uma representação de ti, porque te faltava o sorriso, as bochechas - marcas genéticas de várias gerações-, o teu cabelo cinzento, os teus óculos coloridos, o teu piercing como aquele que nunca cheguei a fazer, apesar dos teus esforços nesse sentido, o teu colo que chegou a dar-me o título de maldita.
Mas eras tu, na realidade, porque foste para não mais voltar.
E levaste muito mais do que o que imaginas. De todos nós, eu sei, mas hoje falo por mim, que não te encontro numa igreja, numa fotografia, numa oração antes de dormir. Encontro-te em mim, sim, numa das melhores partes de mim porque foste tu que me permitiste construí-la, mas não consigo chegar mais a ti, falar-te e ouvir as tuas respostas.
Um dia, os meus pais ofereceram-me a ti, perguntando-te se querias amar-me incondicionalmente, apesar de não ser tua. Escolheste o sim e tornaste-te, assim, minha Madrinha.
E agora, quem é que me vai fazer sentir que faço parte, mesmo sendo de fora? Quem é que vai servir-me a melhor parte da comida, apesar de gostares de tanta gente? Quem vai atender-me o telefone com um olá, minha querida!? Quem é que não me vai rolar os olhos de desilusão perante a pessoa que eu sou?
Despedi-me de ti sem querer, porque fui obrigada a isso. Dizias sempre que não tinhas medo, que nem te preocupavas com isso, porque quando fosse era porque tinha chegado a tua hora, porque tinha de ser. Eras a pessoa mais tranquila e com mais paz de espírito que conheço…

Ao teu lado eu estava em casa. Agora vivo na rua.

Sem comentários: