terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Fizeram-te fraca


- Eles fizeram-te fraca, porque o que te torna forte não é compararem-te com outros e constatarem que és menos, não é não te porem obstáculos no caminho porque sabem que não vais conseguir ultrapassá-los nem é, perante cada derrota, fecharem os olhos e abanarem a cabeça com desdém, porque verem-te estatelada no chão não representa nenhuma novidade. Fizeram-te fraca com cada não e com cada sim mal colocados. Fizeram-te fraca quando te levaram ao colo, porque partiram do pressuposto que não saberias andar por ti mesma, ainda que tenham dedicado meses a fio a ensinarem-te essa arte. Fizeram-te fraca quando colocaram uma redoma a separar-te do mundo, cheia de ideias fixas coladas nas suas paredes. Fizeram-te fraca quando te fecharam os olhos àquilo que não sabiam ou não queriam ter de explicar e quando, por conseguinte, te deixaram ignorante face à realidade do mundo. Fizeram-te fraca quando categorizaram os teus amigos por classes sociais, por apelido ou por nível de q.i., alheando-se da pessoa que cada um deles era. Fizeram-te fraca quando te confinaram à tua casa, à tua família e a um círculo de gente extremamente limitado. Fizeram-te fraca quando não expandiram as conversas à multiplicidade de vida que há no mundo e quando te ordenaram que escolhesses ignorá-las. Fizeram-te fraca quando perfuraram cada pedaço da tua pele com ideias erradas, movidas pelo preconceito pelo qual se guiavam. Fizeram-te fraca quando fingiram que não crescias. Fizeram-te fraca quando te viam à imagem esborratada da pessoa perfeita que queriam que fosses. Fizeram-te fraca quando tentaram cortar-te as pernas quando perceberam que, afinal, não só sabias andar, como também conseguias correr. Fizeram-te fraca quando taparam a tua boca com fita-cola e esperaram que as palavras não saíssem, assim, da tua cabeça. Fizeram-te fraca quando te cuspiram insultos mascarados que se colaram em ti, por dentro e por fora, com toda a sua força. Fizeram-te fraca quando te algemaram, em vez de te estenderem a mão. Fizeram-te fraca quando te viraram costas no momento em que perceberam que não eras tão fraca como tinham planeado. Fizeram-te fraca, sim, mas cresceste mais forte do que muitos, com toda a força que te foi impedida de usares todo este tempo. Toda essa fraqueza se dissipou no momento em que uma pequena frincha se abriu na parede da redoma e espreitaste para a realidade. Foi nesse momento que viste um espelho de ti, pequena e assustada, mas forte, dona de uma enorme capacidade para amar, para compreender, para aceitar e para tentar. Fizeram-te fraca, mas apenas porque a tua força interior foi sempre suficientemente poderosa para conseguires soltar todas as amarras que te lançassem e para dares ao mundo uma grande parte de ti.



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