quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Silêncio

Sentados num degrau a meio das escadas que dão acesso ao teu jardim das traseiras, vemos a luz do dia fugir paulatinamente de mais uma noite que se aproxima. Está frio, mas cheira bem: há uma mistura de terra e folhas molhadas com os aromas dos diversos jantares preparados nas casas vizinhas que se confundem à nossa volta.
As nossas mãos estão entrelaçadas: passo um dedo em movimentos circulares pelos nós dos teus, sentindo a suavidade da tua pele por debaixo da minha.
Fecho os olhos quando os teus lábios se passeiam pelo meu pescoço e pelos meus ombros, para apreciar este momento, evitando os pensamentos que se espalham para todo o lado, fugindo ao meu controlo. Não sabes, mas de cada vez que estou contigo agradeço em silêncio o facto de a vez anterior não ter sido a última. Sinto-me feliz ao teu lado, presa a ti por um nó mudo de qualquer coisa que não pedi.
Colocas um braço à volta da minha cintura, abro os olhos e observo-te diretamente. A tua testa, o teu nariz, os teus olhos, a tua boca e novamente os teus olhos. Sorrio. Estás aqui e eu também.
- O que foi esse sorriso? - perguntas-me.
Sorrio mais, mas fechando a boca, numa tentativa mal conseguida de o conter, e abano levemente a cabeça:
- Não foi nada. - A voz sai-me num guincho, como se fosse uma menina pequenina apanhada a fazer uma asneira.
Gosto de ti, mas não to posso dizer, não é? Não o dirás de volta e isso só iria desfazer a felicidade imensurável que sinto neste momento em que olhas para mim e eu te sinto meu, ainda que apenas por umas breves horas fugazes.
É a ti que quero... e a mais ninguém.
Beijo-te a bochecha, pouso a cabeça no teu braço e assim fico, de olhos fechados a inspirar o teu perfume, até deixares novamente de ser meu.

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