O final de cada ano leva-nos, invariavelmente, a um
balanço dos 365 dias que passaram, de tudo o que foi vivido, dito e sentido ao
longo dos últimos doze meses. É um exercício interessante contrapor a pessoa
que éramos no dia 1 de janeiro com a que somos no dia 31 de dezembro do mesmo
ano. Em princípio crescemos, sabemos um pouco mais sobre alguma coisa porque
ganhámos ou perdemos pessoas, acumulámos mais experiências e, em princípio,
mais conhecimento. Se tudo tiver corrido como é suposto, deixámos a nossa marca
em alguém e alguém (ou vários alguéns) deixou a sua marca em nós, pelo que
estamos em constante mudança e somos pessoas novas todos os anos, ainda que a
nossa essência não mude.
2015 foi, para mim, um ano de autoconhecimento e de recuperação.
Lenta, sim, até porque me trouxe logo três mudanças significativas que
alteraram a minha forma de ser. Comecei, felizmente, o ano com uma mudança de trabalho
que hoje me permite dizer que acordo com um propósito e que sou feliz naquilo
que faço; mudei de casa para ir viver com uma amiga recuperada no ano passado;
e, pouco depois, alterei o meu estado civil, marcando assim uma nova etapa na
minha vida adulta.
Ainda assim, a primeira parte do ano não foi
brilhante e penso nela sempre como uma fase escura, ausente de luminosidade,
pautada por alguma insegurança, instabilidade e mal-estar que fui tentando
contrapor com uma inscrição no ginásio, a recuperação de uma amizade de
adolescência, a aquisição de uma nova amizade e a criação de um grupo de
escrita.
O ponto de viragem foi a semana incrível que passei
em Abrantes. É impressionante quão bem aquela terrinha algures em Portugal me
fez sentir. Regressei recuperada, com um novo ânimo, feliz e tranquila,
entrando, então, na segunda parte do ano, esta sim mais colorida, cheia de luz
e de fé no amanhã, com almoços e fins de tarde passados na praia, debaixo de um
sol quente que se fez sentir até bastante tarde. Recuperei mais uma amizade há
muito perdida e, graças a ela, senti-me um pouquinho mais em casa. Paralelamente,
alimentei as que já tinha. Fui entrevistada no Porto Canal, lancei um livro e
fui apresenta-lo a Lisboa, onde reencontrei parte da minha família e onde
celebrei com os meus amigos mais próximos. Comecei a correr por pressão, mas
acabei por cortar a meta da S. Silvestre do Porto, com vontade de atingir
outros objetivos nesta área. Escrevi seis crónicas para uma plataforma pública
e dois contos para uma outra. Assisti a praticamente todos os concertos que
queria e fui duas vezes a Lisboa, onde passeei quer de dia quer de noite,
relembrando-me, assim, do quão especial aquela cidade é.
Foi o primeiro ano em muitos em que não saí de
Portugal, mas talvez isso tenha contribuído para me convencer um pouco mais de
que é de facto aqui a minha casa, rodeada das minhas pessoas, dos sítios que me
são conhecidos e a seguir as minhas rotinas habituais.
Senti-me muito feliz e amei muito, por vezes iludida por
uma errada sensação de pertença. Vivi, também, momentos de tristeza intensa, de
descrença e de ausência de esperança.
Não tendo sido um ano espetacular, 2015 foi um bom
sucessor de 2014, uma evolução muito positiva.
A lição que me trouxe foi que, dê a vida as voltas
que der, demos nós as cabeçadas que dermos, a base de tudo é a família: os
pais/filhos, irmãos, cunhados, sobrinhos, tios e primos são quem realmente
importa.
A 2016, se me for possível, peço menos das partes más
e mais das partes boas, sem grandes oscilações.
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