terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Vícios adolescentes

No último concerto a que fui, tal como o previra, a maioria do público eram adolescentes. Na minha inocência, fiquei antecipadamente descansada com a ideia de sair de lá com as roupas e o cabelo a cheirar a fumo porque não só não se fuma em sítios fechados, como o espectro de idades não incluiria fumadores.
Obviamente, dois erros crassos de julgamento embora, na verdade, a sala fosse devidamente ventilada, o que me evitou um novo perfume desagradável. Ainda assim, o que me impressionou foi que, tal como tinha previsto, a plateia era, maioritariamente, composta por menores de vinte anos, sendo que havia por lá muitos miúdos com os seus 13/14 anos. Até aqui tudo bem, claro, só lhes faz bem. No entanto, o cheiro a ganza era intenso e quase todos eles tinham um copo com conteúdo alcoólico nas mãos.
À primeira vista, é fácil ignorar, até porque os miúdos hoje em dia têm aspeto de serem bastante mais velhos do que aquilo que são, mas analisando melhor, era mesmo possível ouvir-lhes ainda as vozes que não tinham passado pela transformação para a voz adulta e os comportamentos imaturos de meninos, ainda quase crianças, cujo organismo é, obviamente, incapaz de lidar com o álcool (ignoremos, para este efeito, as drogas).
De certa forma, consigo compreender a pressão dos pares, o desejo de pertencer, de sentir aquela euforia que os outros dizem experimentar, embora a mim, no baixo alto dos meus 28 anos, essa atitude de ceder à corrente me pareça apenas absurda. Mas é para isso mesmo que se passa por uma adolescência, certo? Para experimentar, fazer asneiras, cometer erros e, no final do túnel, saber distinguir o certo do errado.
Há, todavia, outra questão que me faz confusão e que é transversal a qualquer idade: o que é que leva pessoas a embebedarem-se intensamente num concerto? Pagaram um bilhete, neste caso para ver ao vivo um grupo a que não têm acesso sempre que lhes apetecer, e exageram no álcool possivelmente ao ponto de ficarem com a mente tão turva que não só não conseguem assistir devidamente ao concerto como, talvez, não conseguirão recordar-se de nada no dia seguinte.

Nenhum vício é bom, nem mesmo os hábitos saudáveis levados ao extremo, mas fico com pena – e algum receio, confesso – quando vejo aqueles que há não muito tempo eram apenas crianças inofensivas optarem por comportamentos desviantes que, em muitos casos, não têm retorno.

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