Os novos inícios têm tanto de entusiasmante como de
assustador, sobretudo se nos forem impostos por força de algumas circunstâncias
que não podemos controlar.
A princípio surge a confusão, que conduz à tomada de
decisão desse mesmo novo começo do qual desconhecemos tudo, obviamente. Não
sabemos o que nos espera, como vamos lidar com um novo dia-a-dia sem os hábitos
a que estávamos já intimamente ligados. Vem, então, o medo de que esta nova
fase não traga nada de bom em relação àquela que se deixou para trás. Para quê
mexer no que está quieto? Talvez não fosse bom, muito menos ótimo, mas era
estável e, mais importante, era aquilo que conhecíamos, o que tínhamos como
garantido sempre que acordávamos.
Contudo, há uma parte de nós, mesmo que seja a mais
silenciosa, que ambiciona esse futuro planeado, essa ideia de mudança que
projetámos, em contraste com aquilo que tivemos de deixar para trás.
Mantermo-nos fiéis à decisão não é simples: exige
força de vontade e capacidade de abstrair o pensamento que teima em fugir para
aquele único assunto, de tantos que podia escolher. É para isso que existem os
amigos, os ginásios, variadíssimos desportos, cursos, leituras, filmes, séries
e demais distrações que passamos a usar como escape daquilo que nos perturba e
consome hora após hora, mesmo no tempo em que fechamos os olhos à espera, em
vão, de que o cérebro desligue.
Algures por aí temos de conseguir aceitar, de forma a
mantermos a nossa palavra porque, no fundo, sabemos que o novo estado de
coisas, ainda que instável e turbulento, tem potencial para trazer algo de
muito melhor do que aquele ao qual fechámos a porta.
É então que, quase sem dar por isso, já sem pensar
tanto no assunto, os grumos da farinha nos ovos desaparecem, dando origem a uma
massa consistente, amarela e aveludada, pronta a cozinhar. As angústias, pois,
atenuam, dão lugar à tranquilidade por que fomos lutando e o entusiasmo cresce,
porque percebemos que, de facto, aquilo que conhecíamos não era, forçosamente,
o melhor para nós. Talvez agora a vida não esteja a emoção que imaginávamos nos
momentos iniciais de picos de positivismo, mas está, na verdade, mais serena.
Pronta a receber tudo de bom que estiver à nossa espera e que não estávamos
capazes de apreciar devidamente.
Tudo vem no tempo certo para cada pessoa, desde que
nos preparemos interiormente para isso.
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